Um dos principais temas em destaque no Congresso em 2024 é a transição para a energia sustentável, com foco especial no hidrogênio de baixa emissão de carbono. Produzido por meio da eletrólise da água, utilizando energia elétrica de fontes renováveis, como as de matriz hidrelétrica, eólica e solar, entre outras, o hidrogênio sustentável desperta grande interesse devido ao seu potencial para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

Nesse contexto, foi realizada, nessa terça-feira (27), uma audiência pública conjunta das Comissões de Serviços de Infraestrutura (CI) e de Meio Ambiente (CMA) do Senado Federal, que abordou desafios e oportunidades relacionados à economia do hidrogênio sustentável no Brasil.

Além de discutir sua utilização na indústria e seu papel na redução das emissões, foram levantadas questões sobre possíveis impactos ambientais, disponibilidade de fontes de produção, logística e oportunidades no mercado internacional. Essa questão alinha-se com o compromisso nacional de alcançar a neutralidade climática até 2050.

A coordenação da audiência esteve a cargo do presidente da CI, senador Confúcio Moura (MDB-RO), que destacou a importância do debate para a defesa dos interesses nacionais diante de um assunto tão relevante.

Programa nacional de hidrogênio

Presente na reunião, o secretário nacional de Transição Energética e Planejamento do Ministério de Minas e Energia (MME), Thiago Vasconcellos Barral, afirmou que o Brasil se destaca como um dos países com menor custo na produção de hidrogênio. Ele apresentou a meta de desenvolver plantas piloto e demonstrações até 2025, visando impulsionar projetos importantes até 2030.

Segundo Barral, viabilizando grandes projetos e demonstrando que o Brasil é capaz de entregar, em 2035 o país pode oportunizar os chamados hubs de hidrogênio. “Nada disso avançaria se não ampliássemos a oferta de financiamentos competitivos para o hidrogênio”, disse.

Ele lembrou que na 28ª Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP28), realizada no ano passado em Dubai, foi firmada parceria do BNDES e Banco Mundial para estabelecer um fundo em financiamento. Já foram mapeados no Brasil pelo menos UR$ 30 bilhões em projetos e iniciativas, entre eles a exportação de hidrogênio na forma de amônia.

O secretário destacou também ser fundamental estabelecer o marco legal do hidrogênio. “O Brasil tem o potencial, mas precisamos de uma regulamentação e do estabelecimento do Sistema Nacional de Certificação do Hidrogênio”, reforçou.

Profissionalização

O Sistema CFQ/CRQs esteve representado pelo conselheiro federal do CFQ e professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI) José Ribeiro dos Santos Júnior, que destacou a importância de abordar os aspectos químicos envolvidos na produção de hidrogênio.

Para Ribeiro, compreender os processos químicos é fundamental para garantir a eficiência e a segurança da produção desse recurso energético. Além disso, ressaltou a necessidade de investimentos em pesquisa e desenvolvimento na área Química para impulsionar a inovação e a sustentabilidade na produção desse elemento.

“A questão da mão de obra é fundamental e precisa ser qualificada. Nesse sentido, o Sistema CFQ/CRQS já está trabalhando em uma proposta para colaborar com a academia, incluindo a Universidade Federal do Piauí, a fim de desenvolver cursos específicos para capacitar esses profissionais a atenderem às demandas específicas desses processos. Seja no processo utilizando matéria vegetal, chamado de biomassa, seja na eletrólise, é necessário que os profissionais possuam conhecimento para satisfazer as demandas do mercado”, afirmou.

O conselheiro lembrou, ainda, que a transição das indústrias para a utilização do hidrogênio em seus processos implicará em mudanças procedimentais que também afetarão os Profissionais da Química.

Clima

No âmbito climático, o coordenador-substituto do Departamento de Apoio ao Conselho Nacional de Mudança do Clima e ao Comitê Interministerial sobre Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Carlos Alexandre Principe Pires, enfatizou o potencial do hidrogênio na descarbonização da economia, considerando a urgência diante da crise climática.

“Não há um timing mais perfeito, uma vez que já está mais do que comprovado que vivenciamos uma crise climática, sofrendo os efeitos da mudança do clima, com efeitos extremos que acabam impactando a população e os mais pobres são os mais afetados. Diminuir as disparidades é fundamental em qualquer política pública”, declarou.

Já o coordenador-geral de Tecnologias Setoriais da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Rafael Menezes, explicou que a Iniciativa Brasileira de Hidrogênio tem como temáticas priorizadas a produção de hidrogênio a partir de fontes renováveis; armazenamento, transporte e segurança do hidrogênio; além de aplicações dessa fonte no setor de transportes, de combustíveis, siderúrgico, cimenteiro, de fertilizantes, de processos químicos e industriais, e energia elétrica.

Por sua vez, o coordenador-geral da Secretaria de Economia Verde do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Gustavo Fontenele, afirmou que é preciso superar os gargalos tecnológicos, sendo que a demanda é uma das questões fundamentais.

Indústria

A gerente de Energia e Clima da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Juliana Falcão, evidenciou que o hidrogênio será uma das tecnologias necessárias para a descarbonização, mas ressaltou que a versatilidade do hidrogênio é um dos maiores desafios, visto que os recursos são escassos. Juliana lembrou que, em 2021, a demanda mundial por hidrogênio se deu em 41 megatolenadas para refino, 32 megatoneladas para amônia, 16 megatoneladas na produção de metanos e 5 megatoneladas na indústria do aço.

Já a diretora-Executiva da Associação Brasileira das Indústrias de Hidrogênio Verde (ABIHV), Fernanda Delgado, complementou a discussão informando sobre a sofisticação da indústria do hidrogênio sustentável. “Quando se fala em reprimarização da pauta brasileira, gosto de afirmar que o hidrogênio verde não é primário; é uma indústria sofisticada. Não se trata de exportar subsídios, porque é um produto de alto valor agregado e que temos no Brasil”, enfatizou.

A audiência também abordou as perspectivas do setor agrícola, com destaque para a utilização de biomassa na produção de hidrogênio e na geração de fertilizantes hidrogenados. Questões relacionadas ao financiamento de projetos e demanda global pelo hidrogênio também foram citadas, evidenciando a complexidade e a importância desse tema para o desenvolvimento econômico e ambiental do país.

Também colaboraram com as discussões o senador Jayme Campos (União-MT); o gerente-geral de Combustíveis Sustentáveis da Petrobras, Radaes Fronchetti Picoli; o chefe-geral da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Agroenergia, Alexandre Alonso; o presidente da Associação Brasileira do Hidrogênio (ABH2), Paulo Emílio Valadão de Miranda; o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Cloro Álcalis e Derivados (Abiclor), Milton Fernando Rego; a vice-presidente de Investimentos e Hidrogênio Verde da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSolar), Camila Ramos; e o representante da Gerência de Assuntos Regulatórios, Inovação e Sustentabilidade da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Guilherme Marques.

Fonte: CFQ – Com informações da Agência Senado

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